Tangíveis e Intangíveis

Estatísticas?

Estatísticas, nas mãos de tecnólogos e políticos, são um perigo. Servem a qualquer interesse. Afinal, estatísticas são números. E tentar reduzir a complexidade de nossas vidas a um número é, no mínimo, burrice.

Uns exemplos? Pegue um homem e uma mulher. Estatisticamente, cada um tem um testículo. Essa verdade estatística é uma mentira factual. Outro velho exemplo: fulano afogou-se numa piscina que tem, em média, um metro de profundidade... Em média. Num lado tem 40 centímetros, no outro três metros... Outro exemplo: estatisticamente a queda das torres gêmeas em New York significou 3.000 mortos. Só. Nenhuma estatística conseguirá traduzir o impacto que aquele atentado teve em nossa vida, nas questões intangíveis, na diminuição da liberdade de ir e vir, no medo...

Onde quero chegar com essa história da estatística, hem? Quero refletir sobre os prejuízos com a sucessão de escândalos políticos dos últimos anos em que o Brasil parou, enrolado no mensalão e seus afluentes.

Cansei de ler sobre os bilhões movimentados irregularmente, sobre o fulano que pegou 400 mil aqui, o outro que tinha 100 mil na cueca, mais outro que desviou 50 mil da verba que ia para merenda escolar, dos milhões roubados com o escândalo das ambulâncias e outras barbaridades.

Todas as notícias contabilizam os prejuízos. Já sabemos quanto de dinheiro foi roubado, quanto tempo perdemos, quantas pessoas deixaram de receber ajuda, quantas salas de aula deixaram de ser construídas, quantos bebês morreram por falta de socorro, quanto custou o aerolula, etc, etc, etc.

Mas só sabemos daquilo que pode ser traduzido em números. Estatísticas.

Onde está sendo contabilizado o intangível? O que nos foi roubado em amor próprio, auto-estima e valores morais? Quanto vale a morte da credibilidade dos políticos? A falta de confiança nas autoridades? Os meses de aulas canceladas por causa da greve na universidade?

Quanto vale o ano que perdemos discutindo o mensalão e fazendo conchavos para as eleições enquanto projetos de lei e reformas importantes mofam nas gavetas do legislativo, do executivo e do judiciário? Quanto vale a aula desmotivada do professor com salário ridículo e falta de estrutura?

Quanto custa o desencanto dos brasileiros com o Brasil? E qual será o maior prejuízo? Os milhões desviados para a conta no paraíso fiscal ou seu filho dizendo que “quero ir embora deste país de merda?”. Não dá pra contabilizar, não é?

Dos tesouros que carregamos ao longo da vida, os menos valiosos são aqueles que podemos contabilizar: o dinheiro, as propriedades. O ouro. Tudo isso tem preço. Podemos perder e recuperar. Mas os tesouros que verdadeiramente importam, não têm preço. São impossíveis de comprar, alugar ou emprestar. Nossa liberdade. Nossa saúde. Nossos amores. O respeito. A credibilidade. A moral. A honestidade. A educação. A cultura...

A morte desses valores intangíveis, cuja perda não é sentida nem contabilizada, está na raiz de todos os nossos problemas. Todos.

Mas, infelizmente, parece não haver mais homens e mulheres em posição de liderança, com a capacidade de perceber o valor dos intangíveis. Gente capaz de compreender o verdadeiro prejuízo que esta geração está legando a nossos filhos e netos.

A gente que está aí só enxerga as estatísticas que interpretam o Brasil. Mas o Brasil que interessa não se traduz em números.

Vamos voltar ao nosso exemplo das estatísticas?

Seu pai e sua mãe têm dois testículos. Ambos de seu pai, evidentemente, já que sua mãe – se for daquelas mães tradicionais – deve ter nenhum. No entanto, estatisticamente posso fazer o seguinte enunciado:

- Seus pais têm, em média, um testículo cada um.

Imaginou a cena? Seu pai e sua mãe, cada um com um testículo? Parece absurdo, não é? Mas estatisticamente está correto. O erro então é de quem? Da estatística? Do estatístico? Ou da interpretação que costumamos fazer das estatísticas?

Nos períodos eleitorais as estatísticas ganham as páginas dos jornais e revistas e as ondas das rádios e das televisões. Principalmente através de pesquisas, instrumentos fundamentais para os marqueteiros que empacotam muitos dos punguistas candidatos.

Nas mãos de quem sabe usar, estatísticas são armas. Nas mãos de quem não sabe interpretá-las, são armadilhas. E nas mãos de quem sabe manipulá-las, instrumentos de poder.

De quem é o erro?

Vamos voltar ao nosso exemplo das estatísticas?

Seu pai e sua mãe têm dois testículos. Ambos de seu pai, evidentemente, já que sua mãe – se for daquelas mães tradicionais – deve ter nenhum. No entanto, estatisticamente posso fazer o seguinte enunciado:
- Seus pais têm, em média, um testículo cada um.

Imaginou a cena? Seu pai e sua mãe, cada um com um testículo? Parece absurdo, não é? Mas estatisticamente está correto. O erro então é de quem? Da estatística? Do estatístico? Ou da interpretação que costumamos fazer das estatísticas?

Nos períodos eleitorais as estatísticas ganham as páginas dos jornais e revistas e as ondas das rádios e das televisões. Principalmente através de pesquisas, instrumentos fundamentais para os marqueteiros que empacotam muitos dos punguistas candidatos.

Nas mãos de quem sabe usar, estatísticas são armas. Nas mãos de quem não sabe interpretá-las, são armadilhas. E nas mãos de quem sabe manipulá-las, instrumentos de poder.

O IBGE, por exemplo, anunciou algum tempo atrás o resultado de uma grande pesquisa sobre o perfil da população brasileira, revelando que somos um país que caminha para a maioria de negros. Mas quando verificamos as bases da pesquisa, descobrimos que, para efeito de classificação estatística, qualquer pessoa que não seja branca, é negra.

Um negro casa-se com uma branca. Têm um filho mulato que, para efeito da pesquisa, é considerado... negro. O resultado estatístico é corretíssimo. Mas a artimanha da classificação em brancos e negros é questionável. Até mesmo moralmente. O filho do casal deveria ser considerado branco? Claro que não. Nem negro. Mas quem categorizou as – digamos – “etnias” não considerou os mulatos. Ou é branco, ou é negro. E o resultado da estatística está aí, sendo utilizado para propor políticas públicas, definir orçamentos, alimentar Ongs e as tais cotas raciais.

Outra pesquisa recente apontou que o Brasil é um país onde a maioria das pessoas é de classe média. Basta olhar a classificação utilizada para determinar “classe média” para entender os objetivos da pesquisa. Você acredita sinceramente que uma pessoa que ganhe um salário de mil e seiscentos reais é “classe média”? Para a pesquisa, é. E tome manchetes...

É impossível analisar uma estatística sem conhecer o contexto. É impossível contar alguma coisa sem defini-la, sem categorizá-la, sem traduzi-la para indicadores que possam ser medidos. E quem define e categoriza as coisas? Quem definiu que mulato é negro? Quem definiu que mil e seiscentos reais é padrão para classe média? E essa categorização foi feita com que objetivos?

Prestem atenção, meus amigos! Quem define e categoriza o que será medido pode manipular qualquer resultado estatístico. E te colocar na boca do inferno ou a dois passos do paraíso...

Luciano Pires
www.lucianopires.com.br

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