Índio joga copo d'água em deputado e tumultua reunião sobre Raposa Serra do Sol

Publicada em 15/05/2008 às 02h23m
Jailton de Carvalho e Demetrio Weber - O Globo; O Globo Online


O índio Gesivaldo é cumprimentado pelo deputado Raul Jungmann (PPS-PE). Ele jogou um copo d'água no deputado Jair Bolsonaro

A audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara para discutir a situação na reserva indígena Raposa Serra do Sol quase terminou em pancadaria nesta quarta-feira. O índio sateré maué Jecinaldo Barbosa Cabral, chefe da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), jogou um copo d'água no deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que tinha chamado o ministro da Justiça, Tarso Genro, presente à reunião, de terrorista e mentiroso. Bolsonaro levantou e os seguranças surgiram para impedir uma agressão física.

- Eu peguei um copo de água e joguei nele porque não tinha flecha - afirmou o indígena.

A confusão começou quando Tarso chamou de terroristas os arrozeiros que atacaram postos da Polícia Federal e grupos de índios. O deputado Jair Bolsonaro criticou o ministro, afirmando que o petista entende bem do assunto porque fez parte de um grupo terroristas na década de 1970. Irritado, Tarso interrompeu o ataque do parlamentar:

- Quem fez ação terrorista aqui, deputado? O senhor está mentindo! - bradou Tarso Genro.

- Terrorista é quem invade terras! - gritou Bolsonaro, numa referência à disputa pela demarcação da reserva roraimense.

O líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS), entrou na discussão e pediu que o presidente da comissão, Marcondes Gadelha (PSB-PB), cumpra o regimento:

- Esse tipo de provocação é muito comum ao deputado Bolsonaro.

- O ministro fez resistência ao regime militar, mas foi resistência pacífica - comentou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).

Tarso: Mudança em Raposa põe em xeque outras reservas do país

Após participar de audiência na Câmara, Tarso fez uma enfática defesa da retirada dos arrozeiros de Raposa Serra do Sol, e da demarcação em terras contínuas. Para o ministro, o modelo de demarcação já foi aprovado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, e está dentro dos parâmetros estabelecidos pela Constituição para a consolidação dos demais territórios indígenas do país.

Para ele, qualquer mudança no modelo pode botar em xeque as demais reservas indígenas. A questão sobre Raposa Serra do Sol deve ser decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nas próximas semanas.

- Se tiver uma decisão do Supremo (contra a demarcação em terras contínuas) vamos cumprir. Agora isso, vai sim, determinar ações de extinção da demarcação de todos os territórios indígenas (do país) - disse o ministro.
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