A sociedade perdeu?
Publicada em 22/11/2010 às 12h01m
A onda dos arrastões no Rio , quando a ação dos bandidos envolve mais de um veículo abordado e um maior número de vítimas roubadas, com carros incendiados em alguns casos, não dá sinais, pelo menos por enquanto, de que possa ser debelada. Há arrastões em qualquer canto, a qualquer momento. Próximo ao Palácio Guanabara, em Laranjeiras, ou a quartéis das Forças Armadas, num desafio permanente ao poder público.
O pior é que paira no ar uma sensação de que a sociedade e o próprio aparelho policial se sentem, até este momento, impotentes diante de um delito de dificílima prevenção. Até aqui, a ousadia, a obstinação e o elemento surpresa do banditismo venceram a guerra de guerrilha.
Já não adianta mais justificar que a queda dos índices de criminalidade no Rio, nos últimos 15 meses, é progressiva. Sim, isso é fato real. Porém não irá confortar a família do funcionário da Reduc Paulo Cesar Alves, a mais recente vítima fatal de um assalto-relâmpago, na noite do último sábado, na rodovia Rio- Magé. Que sequelas irão adquirir a filha, dois sobrinho e a mulher da vítima, testemunhas vivas de mais uma cena de terror no Rio?
Não dá mais para ficar aguardando o prometido "estado policialesco" da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Até lá a vida de todos nós, policiais e cidadãos, está em perigo iminente. Que me perdoem os "policiólogos" de plantão, mas queda de índices de criminalidade não é sinônimo de sensação de segurança. São coisas distintas. O direito de ir e vir em vias públicas no Rio hoje - temos que nos despir da vaidade e constatar - está seriamente comprometido, apesar de todo o esforço das autoridades e seus agentes na tentativa da redução de crimes e melhoria de níveis de segurança. Não dá mais para se segurar, também, na bandeira do sucesso das Unidades de Polícia Pacificadora.
A sensação de impotência, muito maior que a sensação de segurança, pode inclusive ser constatada pelo relato das vítimas do arrastão neste domingo, na Linha Vermelha, uma via expressa de trânsito, fato ocorrido em frente a uma base de fuzileiros navais, em que até uma viatura da Aeronáutica foi atacada a tiros e granadas.
- Vi um homem no meio da pista com uma arma. Ele disse 'perdeu', mandando todo mundo sair do carro começando a jogar gasolina logo em seguida - disse o aposentado Paulo César Albuquerque, que teve pertences levados e o carro incendiado na presença da mulher, do filho e do neto.
- Eles estavam calmos e muito bem vestidos. Não pareciam bandidos - disse Eliseu Gomes, outra vítima.
A sensação de impotência é tanta que não demora muito vamos ter fatos semelhantes ao da "Síndrome de Estocolmo", onde, num duradouro assalto a banco anos atrás, na capital da Suécia, vítimas acabaram se apaixonando por alguns dos assaltantes abraçando as suas causas como corretas. O segundo sargento da Aeronáutica Renato da Silva, que dirigia a viatura daquela força militar, abandonando o veículo e fugindo dos tiros desferidos contra ele, disse:
- Eles não respeitam nem mesmo os integrantes da Forças Armadas". - Como se narcoterroristas respeitassem alguma coisa.
Estamos diante, sim, de um gravíssimo e preocupante cenário de violência, além de um desafio, que pode tornar o aparelho policial impotente. Ou a polícia do Rio traça urgentes estratégias de contenção ante o quadro de guerrilha urbana ora instalado, apesar do seu cobertor curto, incursinando prontamente nos redutos do tráfico, tirando armas e narcoterroristas de circulação, antecipando-se aos "bondes da morte e do terror", ou infelizmente a sensação generalizada de impotência estará definitivamente consolidada. Por enquanto, toda a sociedade "perdeu". Contraofensiva já, antes que seja tarde.
* Milton Corrêa da Costa é Coronel da PM do Rio na reserva
A onda dos arrastões no Rio , quando a ação dos bandidos envolve mais de um veículo abordado e um maior número de vítimas roubadas, com carros incendiados em alguns casos, não dá sinais, pelo menos por enquanto, de que possa ser debelada. Há arrastões em qualquer canto, a qualquer momento. Próximo ao Palácio Guanabara, em Laranjeiras, ou a quartéis das Forças Armadas, num desafio permanente ao poder público.
O pior é que paira no ar uma sensação de que a sociedade e o próprio aparelho policial se sentem, até este momento, impotentes diante de um delito de dificílima prevenção. Até aqui, a ousadia, a obstinação e o elemento surpresa do banditismo venceram a guerra de guerrilha.
Já não adianta mais justificar que a queda dos índices de criminalidade no Rio, nos últimos 15 meses, é progressiva. Sim, isso é fato real. Porém não irá confortar a família do funcionário da Reduc Paulo Cesar Alves, a mais recente vítima fatal de um assalto-relâmpago, na noite do último sábado, na rodovia Rio- Magé. Que sequelas irão adquirir a filha, dois sobrinho e a mulher da vítima, testemunhas vivas de mais uma cena de terror no Rio?
Não dá mais para ficar aguardando o prometido "estado policialesco" da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Até lá a vida de todos nós, policiais e cidadãos, está em perigo iminente. Que me perdoem os "policiólogos" de plantão, mas queda de índices de criminalidade não é sinônimo de sensação de segurança. São coisas distintas. O direito de ir e vir em vias públicas no Rio hoje - temos que nos despir da vaidade e constatar - está seriamente comprometido, apesar de todo o esforço das autoridades e seus agentes na tentativa da redução de crimes e melhoria de níveis de segurança. Não dá mais para se segurar, também, na bandeira do sucesso das Unidades de Polícia Pacificadora.
A sensação de impotência, muito maior que a sensação de segurança, pode inclusive ser constatada pelo relato das vítimas do arrastão neste domingo, na Linha Vermelha, uma via expressa de trânsito, fato ocorrido em frente a uma base de fuzileiros navais, em que até uma viatura da Aeronáutica foi atacada a tiros e granadas.
- Vi um homem no meio da pista com uma arma. Ele disse 'perdeu', mandando todo mundo sair do carro começando a jogar gasolina logo em seguida - disse o aposentado Paulo César Albuquerque, que teve pertences levados e o carro incendiado na presença da mulher, do filho e do neto.
- Eles estavam calmos e muito bem vestidos. Não pareciam bandidos - disse Eliseu Gomes, outra vítima.
A sensação de impotência é tanta que não demora muito vamos ter fatos semelhantes ao da "Síndrome de Estocolmo", onde, num duradouro assalto a banco anos atrás, na capital da Suécia, vítimas acabaram se apaixonando por alguns dos assaltantes abraçando as suas causas como corretas. O segundo sargento da Aeronáutica Renato da Silva, que dirigia a viatura daquela força militar, abandonando o veículo e fugindo dos tiros desferidos contra ele, disse:
- Eles não respeitam nem mesmo os integrantes da Forças Armadas". - Como se narcoterroristas respeitassem alguma coisa.
Estamos diante, sim, de um gravíssimo e preocupante cenário de violência, além de um desafio, que pode tornar o aparelho policial impotente. Ou a polícia do Rio traça urgentes estratégias de contenção ante o quadro de guerrilha urbana ora instalado, apesar do seu cobertor curto, incursinando prontamente nos redutos do tráfico, tirando armas e narcoterroristas de circulação, antecipando-se aos "bondes da morte e do terror", ou infelizmente a sensação generalizada de impotência estará definitivamente consolidada. Por enquanto, toda a sociedade "perdeu". Contraofensiva já, antes que seja tarde.
* Milton Corrêa da Costa é Coronel da PM do Rio na reserva
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