'Sobrepreço' da transposição do Rio São Francisco chega a R$ 1,1 bilhão, custo dobrou; aponta Tribunal
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Imagem: Reprodução/Facebook |
Prevista para 2012, obra, que vai levar água para 12 milhões, deve ser concluída apenas em dezembro de 2015
Obra mais cara financiada pelo governo federal com dinheiro 100%
público, o projeto de transposição do Rio São Francisco sofreu tantas
alterações desde que foi iniciado que seu custo e prazo de entrega
praticamente dobraram. O valor da construção saltou de R$ 4,7 bilhões
para R$ 8,2 bilhões entre compensações ambientais, desapropriações e
despesas com mão de obra. Apenas em licitações, o Tribunal de Contas da
União (TCU) identificou sobrepreço de R$ 876 milhões, além de R$ 248
milhões em aditivos acima do limite estipulado por lei.
Iniciada em 2007 com previsão de entrega para 2012, a transposição do
São Francisco só deve ser concluída em dezembro de 2015, quando
finalmente levará água a 390 cidades do agreste e sertão de Pernambuco,
Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
O TCU deu o primeiro alerta ainda em 2005, quando o tribunal fiscalizou
os primeiros editais de concorrência para elaboração do projeto,
execução e supervisão das obras, que foram “cancelados em decorrência do
sobrepreço detectado da ordem de R$ 400 milhões”.
Em 2007, novo sobrepreço, agora de R$ 100 milhões justamente no edital
que substituía a licitação cancelada em 2005. Outra irregularidade em
2010, na concorrência 2/2007-MI, quando R$ 36 milhões “extrapolaram o
limite permitido para alterações contratuais e superfaturamento”.
O valor foi bem inferior aos R$ 340 milhões que obrigaram o Ministério
da Integração Nacional (MIN) a revogar o edital que colocaria de pé as
obras civis no Eixo Norte, de 402 quilômetros e três estações de
bombeamento. O motivo: “deficiência do projeto básico, sobrepreços e
restrição à competitividade na licitação”.
Aditivos
Outros prejuízos não foram evitados, como os aditivos financeiros acima
do limite legal de 25% sobre os preços combinados. Pelo menos 11
empresas cobraram mais do que esse percentual.
Em uma fiscalização de 2007, chama a atenção a inclusão de serviços
novos “que redundaram em acréscimos de R$ 127,7 milhões”, 53% acima do
valor original, de R$ 238,5 milhões. Em outra contratação, agora de
2008, o sobrepreço chegou a 54%, ao acrescentar R$ 115 milhões aos R$
212,1 milhões iniciais.
Em sua defesa, o ministério afirma que providenciou decréscimos de
custos de 28% e 32%, respectivamente, o que compensaria os excedentes.
Mas na opinião do TCU, “os diversos aditivos a esses contratos levou a
acréscimos e supressões de serviços em percentual superior a 25% do
valor inicial dos contratos, fato que configura irregularidade por
contrariar a Lei 8.666/1993”.
O rio
Equivalente à distância entre Brasília e Salvador, os 2.830 quilômetros
de extensão do Rio São Francisco são hoje responsáveis pelo
abastecimento de cinco usinas hidroelétricas e pelo sustento de milhões
de ribeirinhos do Vale do São Francisco, que passa por Petrolina, em
Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia.
Se o atual cronograma de obras vingar, em dezembro do ano que vem outras
12 milhões de pessoas também serão beneficiadas pelas águas de um dos
maiores símbolos do País.
Outro lado
A respeito do sobrepreço de R$ 100 milhões, o ministério respondeu ao iG
que "submeteu a nova licitação ao Tribunal de Contas da União, por meio
do AVISO 24/MI, de 2007. O Acórdão 2288/2007 do TCU foi publicado
durante a fase de julgamento das propostas e todos os itens apontados
como sobrepreço foram corrigidos antes da assinatura dos contratos. Ou
seja, não há, portanto, a materialização de sobrepreço."
Sobre os aditivos "não há o que se falar em prejuízo, o que ocorreu foi a
execução de aditivos para inclusão de serviços novos e aumento na
quantidade de serviços que são essenciais para o prosseguimento da obra.
Os aditivos contratuais obedeceram aos limites legais de 25%. O acórdão
TCU 2059/2013, que analisou os aditivos mencionados, não identificou
qualquer irregularidade."
Wanderley Sobrinho
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